cendeu. Em 1970, morreu subitamente no aeroporto de Recife, no momento em que ia
embarcar. Um grande livro publicado em 1994, no Rio, e uma grande retrospectiva em
1997, no Museu de Arte Moderna de São Paulo acabaram de solidif icar sua posição.
Sem fazer alarde, Monteiro foi um dos pioneiros no interesse específico pelo Brasil, que
percorre e se torna o grito de ordem de nosso modernismo, o qual defendia uma arte
nacional, se não nacionalista. As culturas indígenas, em especial a marajoara, fornecem-
lhe temas e formas para a produção pré 1922. Sua obra criticamente mais prestigiada
e mais disputada, no mercado, nem é a dessa fase precoce nem a mostrada
na própria Semana – aliás, bem diferente da que conhecemos. É a obra que se segue
imediatamente à Semana e vai até os anos 1930. Na década de 1940, Rego Monteiro
se dedicou muito à poesia e quase abandonou a pintura. Só após regressar de vez ao
Brasil, na década de 1960, passou a se dedicar inteiramente a ela. Sua produção dos
anos 60 inclui a adaptação ou refeitura de quadros antigos, perdidos num incêndio, e
a pintura de quadros novos fortemente marcados pela linguagem dos anos 1925/1930,
que ele reedita. Não foi ele o único, entre os artistas modernos, a proceder assim, e
esses quadros não são, evidentemente, menos autênticos. Se custam mais barato,
deve-se a peculiaridades do mercado, que estabelece seus mitos e comportamentos.
Não são arte menor, como fica evidente nas obras desta homenagem.
Tematicamente, a pintura de Rego Monteiro registra bastante bem sua época, o mundo
ao redor, e contém também temas permanentes, como os religiosos; era um homem
de fé. Na verdade, no momento em que a questão da nacionalidade ferve no
Brasil, afasta-se dela. Ao lado de crucificações, descendimentos da cruz, pietás, fugas
para o Egito (há duas nesta exposição, uma datada de 1924, da fase áurea), surgem
nus femininos, mulheres com bichos, esportistas, jogos, músicos, operários, figuras