ALCIDES PEREIRA DOS SANTOS
16 pinturas inéditas 2002 a 2006

Exposição e Vendas nº 61
21 de outubro a 14 de novembro de 2024


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Alcides: arte naif, art-brut, arte espontânea, arte contemporânea, todas inclusive

Conheci Roberto Rugiero (1942-2020) em 1967, na Galeria Art-Art de meu irmão Ralph com quem já trabalhava e desde então, tivemos uma longa amizade e várias parcerias.

Em 1972, em nossa primeira parceria, adquirimos um lote de obras de Alfredo Volpi das mãos de Paulo Kuczynski..

Em 1973 adquirimos 30 obras de Tomoshige Kusuno, e em 1976, 23 obras de José Antonio da Silva, quando realizamos uma histórica exposição na R&R Camargo Arte, com absoluto sucesso. Em 1985 realizamos a exposição de Agostinho Batista de Freitas no Studio José Duarte de Aguiar e Ricardo Camargo, e mais recentemente em 2018, uma exposição de Ranchinho, esta já em minha atual galeria.

Paralelamente as nossas parcerias realizamos vários negócios de acervo e sempre mantivemos uma leal amizade.

Rugiero inaugurou a sua galeria Brasiliana em 1980 onde lançou diversos artistas de arte primitiva, naif, espontânea, hoje circunscritos no seleto mercado de arte contemporânea.

No ano passado através de contatos com sua filha Fedra, que trabalhou com ele um longo período, propondo de produzirmos juntos alguma exposição memorável.

Surgiu então esta magnífica seleção de 16 pinturas de Alcides Pereira dos Santos, que Rugiero começou a adquirir no inicio dos anos 2000.

São obras que abrangem suas principais tendências temáticas e estilísticas e que podem transitar livremente em qualquer das linguagens contemporâneas, seja naif, espontânea, art brut, e outras, inclusive.

RICARDO CAMARGO

Em tempo:
No próximo dia 9 de Novembro será lançado o livro “Mestres da Pintura Espontânea” escrito por Roberto Rugiero, contando toda a sua trajetória de vida, na Livraria Martins Fontes.


ALCIDES PEREIRA DOS SANTOS
(1932, Rui Barbosa, BA – 2007, São Paulo, SP)

Alcides Pereira dos Santos nasceu na Bahia e migrou para o Mato Grosso em 1950, fixando-se na cidade de Rondonópolis, onde viveu da atividade de pedreiro, sapateiro e barbeiro.

Nessa época, sua vida ganhou novas motivações: a Bíblia e a pintura. Em 1976, mudou-se para Cuiabá, onde o Atelier Livre, montado pela prefeitura local, fornecia material e a orientação da pintora Dalva de Barros para quem quisesse desenvolver seus dons artísticos. Sob a direção da historiadora de arte Aline Figueiredo e seu marido, o pintor contemporâneo Humberto Espíndola, esse ateliê ganhou notoriedade ao atrair e disponibilizar meios para o aparecimento de um grupo artístico de alto nível.

A convivência com outros criadores e o reconhecimento de seu talento proporcionaram a Alcides um novo alento, ao demonstrar que podia viver de seus quadros, como um profissional. Muito ingênuo, quase indefeso, Alcides acabou por ser manipulado por intermediários que nunca praticaram um preço justo por sua produção. Nessa época, alguns de seus quadros tinham pedaços de objetos: ele incluía nas suas pinturas tiras de tapetes e fragmentos de vidro descartados, com um resultado que poderia incluí-lo dentro dos parâmetros da “art brut”.

Homem muito religioso e evangélico, ele repetia sempre que a pintura era um dom de Deus, e seus temas principais abordavam a natureza e o Velho Testamento. Outros mostravam um arraigado patriotismo e exaltavam episódios e aspectos da História do Brasil.

Sua vida retirada e ascética era sustentada por uma pequena aposentadoria, insuficiente para suas modestas necessidades, e pelos parcos recursos provenientes de quadros que vendia a preços irrisórios. Enfraquecido, o artista se fechou numa vida religiosa e de poucas emoções, tendo apenas um grande amigo, o motorista João Batista, morador das imediações, que o amparou desinteressadamente na trajetória final de sua existência. Alcides parecia

viver permanentemente mergulhado em seu mundo interior e desconectado da realidade. Curiosamente, em sua última produção, ele praticamente abandonou a temática religiosa, dedicando-se a assuntos da tecnologia e da arquitetura: meios de transporte, usinas, maquinário e construções.

A pintura de Alcides difere muito da produção habitual da arte popular no Brasil – poucos quadros refletem algum aspecto do cotidiano, e, se o fazem, é sempre de maneira sintética, minimalista, contemporânea, fazendo dele um artista que congrega e ultrapassa todas essas categorias presentes em sua obra.

Vários dos mais importantes críticos brasileiros saudaram sua desconcertante originalidade: Frederico Morais, Aracy Amaral e Olívio Tavares de Araújo – que o chamou de “um inventor de formas”. Participou de muitas exposições de importância, como “Brasil/Cuiabá: Pintura Cabocla”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1981; “Herdeiros da Noite”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 1994; Mostra do Redescobrimento, em 2000; “Brasileiro, Brasileiros”, no Museu Afro Brasil, em 2005. Em julho de 2007, a Galeria Estação, em São Paulo, organizou uma mostra individual do artista. Combalido, mas ao mesmo tempo comovido e vibrante, Alcides compareceu em cadeira de rodas, deu entrevistas, brincou e fez poses para os fotógrafos. Foi a sua única exposição individual e provavelmente a maior alegria de sua vida. Três dias depois ele faleceu.

ROBERTO RUGIERO 2019


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