ANTONIO GOMIDE & VICTOR BRECHERET

Exposição e Vendas nº 28
17 de maio a 18 de junho de 2005


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Antonio Gomide e Brecheret, enfim juntos

Um aguardado e mais do que desejado encontro de dois expoentes do modernismo brasileiro, esta exposição reúne pela primeira vez as obras do pintor, aquarelista e escultor Antonio Gomide e do escultor Victor Brecheret. A mostra, inédita em vários sentidos - com raridades e peças únicas - comemora os dez anos solo da nossa Galeria. As afinidades e a amizade dos dois artistas são antigas. Eles se conheceram em Paris em 1924, quando Gomide, já considerado o primeiro pintor cubista brasileiro, se torna amigo de Brecheret, seu vizinho de ateliê.

No Brasil, desde 1934 Antonio Gomide e Victor Brecheret planejavam fazer uma exposição conjunta, um projeto sempre adiado e que nunca se concretizou. Múltiplo em suas diversas fases, Gomide só é reconhecido atualmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em contraponto, a obra de Brecheret há muito tempo é consagrada em todo País e no exterior. Num minucioso resgate de acervo, realizamos agora o desejo dos dois modernistas, de se encontrarem, enfim, numa mostra.

Dezenove obras de Gomide pertenceram a seleta coleção do Dr. Luis Arrobas Martins, indicada por Christina Paranhos do Rio Branco, a quem agradeço. Aficionado da arte brasileira, Arrobas Martins foi responsável, nos anos 70, pela escolha do valioso acervo adquirido pelo governo de Paulo Egydio Martins no Estado de São Paulo. Entre os destaques da exposição estão o excepcional óleo Caçador (1928); um belíssimo afresco (1939) e a escultura em madeira Figura com colar de Guiné, que pertenceu a Pietro Maria Bardi, nosso mirante das artes.

Com exceção de uma única escultura, todas as obras de Brecheret são inéditas. A maioria é proveniente do acervo de Victor Brecheret Filho. Únicas, elas só foram exibidas em museus. Entre as raridades, desponta o bronze feito pelo escultor em vida, Bailarina (c.1925), que pertenceu ao senador e mecenas Freitas Valle. Nos mármores brilham o delicado Retrato de menina (1937) e Cabeça de anjo (1945). Nas terracotas, se impõem um brasileiríssimo São Francisco com boizinho (1953) e o telúrico Drama marajoara (1955). No lote de Brecheret reluz ainda - enigmática - a pedra Luta da onça com o tamanduá (1947/48), peça única na sua originalidade feita de incisões.

Esta exposição realiza o antigo sonho de dois artistas ímpares da arte brasileira, e que hoje se tornou mais marcante diante da escassez de obras modernistas oferecida ao mercado.

Ricardo Camargo

Em carta datada de 14 de maio de 1924, dirigida a Mário de Andrade, Brecheret escrevia no post scriptum:

"Tive uma grande surpresa nestes dias, Antônio Gomide, o irmão de Regina Graz, é um grande pintor, moderníssimo, e muito sólido, a arte que ele faz atualmente são 'arfreque', que é uma coisa dificílima, que bom, mais um no nosso grupo, dos nossos, ele agora está preparando-se para uma exposição em São Paulo, você verá que bixo".

"Gomide" de Elvira Vernaschi
Trecho da pág. 40



As "Pedras" de Brecheret

Ora, isso é Sabedoria. Eis que isso Brecheret se pilhou fazendo, intuitivamente, com suas pedras: grandes pedregulhos-rolados que o mar lhe deu, com um mistério hieroglífico inscrito na sua matéria.

Dir-se-iam formas lisas de Brancusi? - Não. Brancusi quis fazer pedras-roladas para significar coisas; Brecheret recebeu essas coisas nas pedras-roladas que tirou do mar. E assim..., em um desse grandes ovos que o tempo chocou no leito marítimo, Brecheret surpreendeu a Luta da onça com o tamanduá, tragédia da floresta, escondida, longe, entre ondas e areias...

Se fosse possível haver uma Arte Brasileira, seria essa que Brecheret inventou. Essa, sim, é natureza nossa: material, sentimento, idéia, expressão, gentes, bichos, coisas, ritmos e mística do Brasil.

Guilherme de Almeida
Da Academia Brasileira de Letras
Diário de S. Paulo 21.11.1948


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