MERCADO DE ARTE Nº 14

Exposição e Vendas nº 45
22 de maio a 14 de junho de 2014


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Com o conceito de expor apenas obras inéditas ou que estejam fora de circulação há 20 anos, a Ricardo Camargo Galeria inaugura a 14a edição do seu Mercado de Arte, trazendo 44 trabalhos de 26 artistas, expoentes da arte moderna e da vanguarda brasileira, além de mestres da arte internacional, como o uruguaio Torres García e o inglês David Hockney.

Nesta edição a galeria – que já fez três exposições dedicadas ao talento de Victor Brecheret – presta uma homenagem aos 120 anos de nascimento do escultor ítalo-brasileiro, com cinco peças raras. Essas esculturas são analisadas neste catálogo pela crítica e historiadora de arte Daisy Peccinini, a maior especialista na obra de Brecheret.

Ainda dentro do modernismo brasileiro despontam na mostra o raríssimo óleo Paisagem com lago, do final de 1918, de Anita Malfatti; e dois exclusivos quadros da década de 20 realizados pelo requinte de Vicente do Rego Monteiro – Descida da cruz (que pertenceu a Pietro Maria Bardi, criador do Masp) e Le couple, pintado em Paris. Esse período corresponde à fase mais importante do artista, segundo o crítico Walter Zanini, além de ter sido da época em que Rego Monteiro conviveu e compartilhou interesses parisienses com Brecheret. A eles se juntam a deslumbrante tela Vaso de flores, de José Pancetti e a excepcional pintura a guache Composição abstrata, de 1957 de Antonio Bandeira, mestre do abstracionismo nacional.

A força da vanguarda nacional surge na exposição com a contundência visceral da tela Oban de Antonio Henrique Amaral. Pintada em 1973, mas atualíssima, com uma moldura especial desenhada por Amaral, ela tem o mesmo impacto dos sombrios anos de chumbo. Um contraponto ao terror da ditadura brilha no luminoso trabalho de Luiz Paulo Baravelli, O homem que mora no sol, de 1985. E é com fina ironia que o autocentrado bronze de Edgard de Souza fecha o círculo da vanguarda e aponta para o individualismo dos anos 90. Esta diversificada edição do Mercado de Arte, com trabalhos vigorosos e delicados, marcam a atualidade atemporal das obras de arte de qualidade.

Ricardo Camargo
colaborou Roberto Comodo

David Hockney + 5 latino-americanos

Junto ao acervo nacional, apresentamos uma pequena coleção com 12 obras de artistas internacionais, sendo a maioria delas inéditas.

Este acervo é liderado por David Hockney, um dos mais famosos artistas contemporâneos ingleses, com o nanquim Ossie Clark, da sua célebre série de retratos duplos de casais de amigos, de 1970. Para pintar o casal de designers de moda Ossie Clark e Celia Birtwell, Hockney fez numerosos estudos que acabaram resultando em pinturas de grandes dimensões. A série de desenhos ficou famosa, participou de exposições nos Estados Unidos e Europa. As pinturas estão hoje no acervo da Tate Modern, de Londres, que detém dois desenhos da série.

Os trabalhos seguintes trazem os traços dos mestres latino-americanos. Assim, o início da vanguarda no continente pode ser visto em nanquim e lápis em dois desenhos do construtivista uruguaio Joaquín Torres García – Constructivo con corazón, de 1937, e Constructivo con sol y luna, feito em 1943 – que prenunciam a originalidade de sua obra, repleta de grafismos e planos. Já Diego Rivera, um dos maiores pintores e muralistas mexicanos, se impõe com a força telúrica de sua Cabeça de camponês, nanquim pincelado de 1947.

A abundância de formas do colombiano Fernando Bottero transparece no grafite Mulher sentada e na aquarela Cesta de uvas, dos anos 80. Destacam-se ainda na mostra o par de pinturas do uruguaio Pedro Figari, Indecision e Candombe, realizadas nos anos 30; e o esplêndido óleo Estudio de Sol, de 1945, do argentino Emilio Pettoruti, amigo de De Chirico e Giacomo Balla e ligado ao grupo futurista italiano.

Ricardo Camargo
colaborou Roberto Comodo


A dimensão transnacional da escultura de Brecheret

No momento do aniversário de 120 anos do nascimento de Victor Brecheret é emblemático o fato que se mostrem obras que estiveram longe do olhar do público colecionador, algumas inéditas e outras pouco vistas.

De fato, o núcleo Victor Brecheret na coletiva Mercado de Arte se constitui em precioso conjunto de obras de um dos mais importantes escultores da Arte Moderna Ocidental. Victor Brecheret e sua arte ultrapassam os limites do Modernismo Brasileiro e ocupam uma posição de destaque no cenário mundial das artes da primeira metade do século XX. Convém lembrar os prêmios nos salões de Paris – Salão de Maio e Salão dos Artistas Independentes –, somados à admiração que lhe dedicavam Bourdelle, Picasso e Léger, entre outros. O ápice de sua trajetória de sucesso em Paris, então centro mundial das artes, foi em 1934. Neste ano foi o primeiro artista do Brasil a receber a mais alta condecoração do governo francês, como Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França. Junto com a concessão do título, o governo adquiriu sua obra, “Le Groupe” (O Grupo), granito de 1933-1934, colocando-a no Museu do Jeu de Paume, que reunia as obras dos artistas contemporâneos mais destacados nos salões.

O conjunto das cinco obras selecionadas para a exposição coletiva percorrem quatro décadas do itinerário da carreira de sucesso de Victor Brecheret e merecem cada uma comentários que contextualizem o momento de criatividade e sensibilidade de sua produção, sendo cada uma como o artista bem as definia “suas filhas” nascidas de seu incomensurável talento e capacidade de trabalho. Victor Brecheret é um escultor nas dimensões maiores de valor em criatividade justeza de material, forma e profundidade em singular harmonia entre a profundidade da inspiração e a exteriorização material da sensibilidade.

Daisy Peccinini
professora, historiadora e crítica de arte

 



Casal de pombos: realizado em Paris, é uma escultura na qual Brecheret, apesar do despojamento das formas incansavelmente procurado, não deseja chegar aos limites da essencialidade das formas geométricas como Brancusi. Faz um caminho próprio, dotando a obra de tonalidades líricas de um percursor da Art Déco.

Na composição das duas aves aconchegadas, de volumes arredondados, predominam as superfícies lisas, quebradas por poucas fissuras precisas dos detalhes. Procura na lisura dos volumes a máxima luminosidade. O uso do material, de textura porosa, a pedra de França permite emanar uma especial e doce radiância. Esta peça participou da primeira exposição individual de Victor Brecheret em São Paulo,
em 1926. D.P.

 



Brecheret compôs a cabeça da jovem esposa, em São Paulo, captando o caráter juvenil e a expressão alegre. O escultor elabora uma versão pessoal, amorosa sem aplicar os despojamentos formais no tratamento de superfícies lisas e sumamente luminosas dos retratos anteriores. O artista se entrega a uma interpretação naturalista e poética que faz a matéria e a luz vibrar mais dinâmica nos relevos mais numerosos e delicados desta peça que participou da exposição Brecheret, em 1948 na galeria Domus. D.P.

 



A figura feminina está representada em 3/4 de tronco, com as mãos entrelaçadas à frente. Este gesso faz parte da série de retratos que desde o final da década de 20 lhe são encomendados em Paris, por uma clientela de norte americanas, amateuses de l´art. Estas obras tiveram muito sucesso, como o Retrato da Marquesa Soriano de La Gandara. (Coleção MAB-FAAP).

No retrato da Condessa, ele desenvolve também no gesso-modelo, a pureza e a simplicidade das formas firmemente trabalhadas, com refinamento. Dá-lhes relevo e luminosidade através de as superfícies lisas e fluidas. Este belo código de formas que reúnem qualidades técnicas, marcadas de serena introspecção, que emanam esteticamente e impactam o espectador por sua harmonia clássica.

Elas fazem lembrar os retratos escultóricos do século XV de Francesco Laurana (1425-1502).

Este gesso está preparado para servir de modelo, a fim de que o mestre canteiro (métteur au point) por meio do pantógrafo executasse em mármore. O retrato em mármore faz parte do acervo do Museu da Casa Brasileira. D.P.

 



Em 1954, Brecheret vai a Europa pela última vez depois de 17 anos e neste mesmo ano executou a decoração de uma pequena capela de fazenda. Para o altar mor realizou o último da série de seus Cristos em terracota. Esta é uma peça singular não só por ter maiores dimensões mas principalmente pela composição, que testemunha a inventiva ilimitada do artista. De fato, os temas sacros que sempre estiveram na sua produção escultórica se intensificam como principal temática na década de 50 entre eles o do Cristo crucificado. Esta imagem sacra, como as anteriores está marcada por incisões quadrangulares e linhas paralelas e pontilhados que o artista explicava como elementos para dar lhe maior força expressiva a figura.

Na década de 50 e na produção de temas sacros o artista associa os grafismos ao seu momento da vida. Sabendo-se cardíaco e, portanto com risco de uma existência abreviada, dados os limitados recursos da época, ele marca com incisões, como expressão de sofrimento. Assim Cristo é marcado na sua dolorosa crucificação. Por outro lado, na imagem se destaca a comovente presença de quatro pequenos anjos, figuras roliças com ecos de querubins barrocos, quase do tamanho de borboletas de asas estendidas, que se inclinam sobre as chagas do crucificado, para amenizar as suas dores. Estes elementos dão uma movimentação inusitada às superfícies e um conteúdo poético inédito à imagem. D.P.

 



O nu masculino reclinado é um eco das cenas vistas pelo escultor, no Porto senegalês de Dakar, parada obrigatória dos navios na travessia do Atlântico. Impregnaram fortemente a sensibilidade do artista as visões de homens montados em cavalos e zebus, com suas longas pernas e pés pendentes que quase tocavam o chão. Admirava seus tipos atléticos, de ombros largos e cintura estreita, compondo uma geometria natural de trapézio invertido. Neste bronze, Brecheret plasma de forma encantada o biótipo apolíneo africano desta região: o crânio dolicocéfalo, longos braços e pernas com os calcanhares projetados para atrás. Esta figura reclinada, já está dotada pelo escultor de grande força alegórica porque não se trata de retratar uma pessoa exótica, mas de captar os elementos estéticos constantes que caracterizam uma etnia. De fato, trata-se de uma obra precursora da figura africana que colocará em dimensões monumentais no grupo dos bandeirantes, no “Monumento às Bandeiras”; junto com brancos, índios e mamelucos, como símbolo grandioso dos povos formadores da nação brasileira. D.P.

Confira a repercussão na mídia:

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